Nossa Alexia, como você sabe disso?
Já aconteceu comigo e tenho certeza que você vai se identificar. Quem nunca foi surpreendido com um anúncio na internet de algo que você apenas falou que iria comprar? Você está no escritório e solta um “preciso comprar um tênis novo” e, minutos depois, aparece milagrosamente aquele anúncio no meio do seu Facebook ou nos rodapés dos sites? Será que a sua frase foi captada e motivou esse anúncio? E aí que mora a polêmica.
De acordo com uma publicação recente do respeitado The Guardian, do Reino Unido seu smartphone, notebook, tablet, ou suas assistentes virtuais Alexa, Siri e Cortana estão vigiando você. Todos esses dispositivos ouvem, registram, arquivam e monitoram, de alguma maneira, o que você fala. Os registros podem ser em áudio, em transcrições completas ou resumos. Porém, as empresas garantem que tudo só fica arquivado.
Essa é a alegação da Amazon, por exemplo, alvo de críticas sobre o possível uso de gravações feitas pela assistente Alexa. A empresa diz que seus produtos são vilificados de maneira injusta. Segundo a companhia, é verdade que os dispositivos escutam o tempo todo, “mas de maneira nenhuma transmitem tudo que ouvem”. Só quando um dispositivo ouve a palavra de despertar “Alexa”, é que a gravação é mandada para a nuvem e analisada. Pelo menos, essa é a versão oficial.
E o argumento é o mesmo usado por todas as companhias de tecnologia acusadas de espionar os consumidores: elas dizem e que só ouvem quando recebem uma ordem expressa para isso. Dizer a frase “OK, Google” desperta os aparelhos da companhia. Mas, agora vamos a pergunta-chave: mesmo que isso seja verdade, quando que termina a gravação?
De acordo com a publicação britânica, fontes da Apple, que se orgulha da maneira como protege a privacidade do usuário, dizem que a Siri tenta satisfazer todas as demandas possíveis de maneira direta no iPhone ou no computador do usuário. Caso uma demanda seja levada à nuvem para uma análise adicional, será marcada com um identificador em código, e não com o nome do usuário.
A publicação ainda afirma que praticamente todos os fabricantes de sistemas de inteligência artificial reveem pelo menos algumas das transcrições das interações dos usuários com suas criações. A meta é descobrir o que é funcional, o que precisa ser aprimorado e o que os usuários estão dispostos a discutir. Há muitas maneiras de fazer isso. Os registros podem ser modificados para que o funcionário encarregado não veja os nomes dos usuários individuais. Ou eles podem ver apenas dados resumidos.
Porém, tudo isso deixa muito claro que a questão de anonimato e proteção dos seus dados é algo muito difícil. E tudo isso acende a luz de alerta para algo que vem colocando o Brasil em posição de destaque: os ataques de hackers. Em testes de laboratório, cientistas foram capazes de invadir a interface da Amazon, Apple, Google, Microsoft e Samsung, e ouvir pedidos e perguntas dos usuários.
Por isso, é preciso saber todos os usos possíveis dos dados coletados por inteligência artificial. Em caso de dúvida, talvez perguntar para a assistente virtual não seja o melhor caminho.
LEANDRO PINHO SOCIEDADE INDIVIDUAL DE ADVOCACIA é um escritório digital focado no extrajudicial, especializado nas áreas de Privacidade e Proteção de Dados (LGPD), DPO Encarregado de Dados, Direito do Consumidor, Direito Extrajudicial, Direito Imobiliário e Condominial, Direito Médico, Odontológico e da Saúde, Propriedade Intelectual.